Entrevista com Peter Webb

 

Peter, é fácil trazer a permacultura para o nosso cotidiano?
Temos que entender o que fazemos todo dia e como isso afeta nosso ambiente. Na visão da Permacultura, o ser humano é parte de um ecossistema. Na cidade, as casas são os ecossistemas. Cuidar destes ciclos e não desperdiçar os nosso recursos escassos são formas de inclusão da ciência. Precisamos nos atentar ao consumo de alimentos, a forma como fazemos as compras, o que fazemos com o que sobra. O ser humano tem que estar inserido, não à parte. Se não praticarmos essas atitudes, nos afastamos e entramos num mundo que é muito egoísta. Não agimos com consciência das interações dos contatos, as conexões que nós vamos ter com os outros seres. Hoje em dia, com o tempo cada vez mais corrido, é importante que tenhamos um espaço dentro de casa que é condizente a criar uma estabilidade interna. Que possamos ter momentos de calma, o que é cada vez mais difícil. Podemos criar um espaço aconchegante. Pode ser uma parte da sala onde existam plantas, uma poltrona confortável. Temos que montar nosso ambiente pra estimular nossa capacidade de estar centrado.
 
O plástico ainda é um grave problema ambiental?
Todo mundo sabe que há uma quantidade de plástico enorme que vem com o nosso consumo. A reciclagem ou qualquer forma para que esse lixo possa voltar a ser algo que faz parte da natureza é importante. Comer um mingau do milho, tomar um café que vem do quintal ou da sua plantação e não ter nenhum pacote plástico envolvido é uma questão de esforço.
 
O que lhe motivou a trabalhar com a Permacultura no Brasil e quais foram as suas maiores dificuldades?
Na Austrália, quando tinha 16 anos, resolvi que queria ter uma vida auto-suficiente. Mais tarde, ao final da minha faculdade, a permacultura estava começando. Então, me envolvi com o Bill Mollison e todo o movimento de Permacultura e já comecei a trabalhar com isso. Depois fui para Londres estudar agricultura biodinâmica, conheci uma brasileira e me mudei. Infelizmente, as coisas aqui no Brasil estavam bem atrasadas em relação à Austrália. Era o fim da ditadura militar e as pessoas estavam desiludidas. Nós desanimamos no começo, mas depois pensamos que o nosso trabalho poderia ser uma semente para muita gente. E eu sabia que o Brasil era uma país de solo fértilFomos para Minas Gerais e vivemos essa vida auto-suficiente 14 anos. Mudamos para São Paulo e a realidade foi outra totalmente diferente. Era um desafio muito grande inserir isso. Vivemos também a realidade da comunidade caipira, ajudando no resgate do cultivo de alimentos.
Depois de um tempo, percebmos que as pessoas estavam mudando de forma contrária. Indo da cidade para o campo. Então percebemos que as pessoas compravam a terra, construindo, mas não sabiam a dinâmica. Então veio a idéia de ensinar Permacultura, principalmente nas faculdades, e os estudantes começaram a ver que a nossa idéia não era tão careta assim.
 
Você acha que apesar de o Brasil ser um país grande e rico ambientalmente, ele ainda sofre pressões para consumir e vender eu patrimônio?
Aqui é muito parecido com a Austrália, que também sofre muita pressão dos Estados Unidos. A diferença é que eles não tinham coragem de chamar a Austrália de um país de Terceiro Mundo, mas tinha toda essa pressão: “Ah, você precisa se ligar à gente, você precisa comprar da gente, porque a gente que sabe a verdade!”. E no Brasil, desde que eu moro aqui, percebo isso. É pressão o tempo todo! “Vocês não são ninguém!”, “De repente deixamos porta de trás aberta pra você, mas bater na porta da frente, ainda não”. Isso cria problemas, porque se todo mundo acredita nisso, nunca vamos valorizar e explorar o valor do Brasil, que é inestimável.
 
Você, que trabalhou com caipiras e roceiros, acha que a permacultura valoriza mais os trabalhadores rurais?
A maior parte do valor do Brasil é o povo que está espalhado em culturas diferentes.
Já trabalhei com os caipiras, em comunidade caiçara, com os índios Guarani. Este povo é sábio. Eles têm, naturalmente, um certo nível de auto-suficiência. A Permacultura é muito legal nisso. Você valoriza estes trabalhadores, aprende com eles e cria vínculos de aprendizado. São todos importantes.
 
Fale um pouco sobre as relações humanas e a permacultura?
Quando você trabalha com ecossistemas, começa a perceber que cada pessoa tem uma visão diferente da realidade. Lidar com a realidade de cada um é igual lidar com o caos, porque na verdade eu não posso prever o que você vai fazer, mas se a gente consegue se comunicar pode compartilhar realidades. E aí, de novo o tal do trabalho, ou a intenção do trabalho de interdisciplinaridade ou transversalidade.