Entrevista com Marcelo Bueno


Como foi o seu primeiro contato com a Permacultura?
Tive contato com a Permacultura numa viagem a Austrália, onde conheci algumas ecovilas. Nas regiões próximas à Sydney existem mais de 60 experiências de assentamentos sustentáveis, todos na mesma região. Continuei viajando por mais 2 anos e fiz uma pesquisa maior nos Estados Unidos, visitando várias experiências, indo a encontros de Permacultura. Quando voltei, fundei o IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atllântica).
 
Quando se fala em Permacultura, geralmente nos vem a ideia de uma vida no campo. Como implementar esse sistema nas cidades?
A Permacultura é um planejamento que pode ser feito em qualquer tipo de área ou construção: casas, apartamentos, sítios, vilas, até mesmo em condomínios ou cidades. Mas o principal são as pessoas quererem participar desse planejamento sustentável. Isso requer mudança de hábitos de cada um. Pouco a pouco você vai se tornando mais sustentável, porque vai adquirindo mais experiência, incorporando alguns equipamentos na sua casa, vai mudando seus hábitos e aí consegue atingir esse planejamento total.
 
Quais atitudes devem ser tomadas pelos cidadãos para melhorar esta situação?
A primeira atitude é cuidar do lixo. Hoje em dia delegamos o lixo aos cuidados do poder público e sabemos que ele não tem condições. Emitimos muito lixo e isso está causando grandes problemas em todas as cidades. Temos que ser responsáveis por aquilo geramos. Se cada pessoa reciclasse o lixo em casa, se responsabilizasse pelo lixo orgânico, fazendo composteiras. Muitos lugares recebem lixo reciclável e não geram resíduos. A cidade em menos de um dia, só com a mudança de atitude das pessoas, não teria mais problema nenhum com o lixo!

Como a questão do consumo excessivo de energia pode ser resolvido pela permacultura?
Se você consome energia elétrica em excesso, estará incentivando que mais termelétricas ou usinas nucleares sejam construídas. As pessoas pensam: “Eu tenho dinheiro, posso gastar, não me importo com a conta”, quando, na verdade, estão contribuindo pra um impacto ambiental. Uma solução é trocar as lâmpadas da casa utilizando equipamentos mais eficientes; trocar o chuveiro elétrico (que é responsável por 40% da conta de luz) por um movido a energia solar. Um carro à álcool é muito melhor do que um a gasolina. Tentar buscar soluções como o biodiesel ou reaproveitar o óleo também são boas trocas.
 
Quais os principais benefícios da permacultura do ponto de vista socioambiental?
A questão socioambiental envolve pessoas de baixa renda. A permacultura ensina a essas pessoas que elas não precisam ter muito dinheiro para aplicá-la. A reciclagem, reutilização da água da chuva por sistemas simples, Eles fazem o planejamento sustentável espontaneamente, por necessidade. As classes que têm mais poder aquisitivo deveriam ter mais responsabilidade por terem mais conhecimento e estudo e saberem da situação atual.
 
Fale sobre o PDC, Curso de Design em Permacultura.
O PDC é um curso básico de 10 dias para que as pessoas possam entender um pouco o sobre a Permacultura. Além disso, ele explica e demonstra algumas estratégias de sustentabilidade. No final do curso, se conseguir captar o conceito, o aluno tem que criar um planejamento em alguma área para ser analisado.

Marcelo, abrimos esse espaço para suas considerações finais.
Permacultura é um assunto atual, apesar de ter sido criada nos anos 70. Eu acho que todas as pessoas precisam começar a ter mais responsabilidade com o consumo, com seu estilo de vida. Não é ter a camisetinha mais bonitinha, o sapatinho da moda, nem o carrinho do ano. É pensar da onde vieram esses materiais e se é mais legal ser um consumista que contribui com a destruição da Mata Atlântica, da Floresta Amazônica ou ser uma pessoa engajada no mundo, ter consciência do seu impacto e tentar minimizá-lo ao máximo possível.